segunda-feira, 17 de março de 2014

Irmandade



Desde pequeno tive uma criação muito rígida. Minha mãe além de me reprimir muito, não deixava eu sair da linha. Tentava fazer amigos, mas todo lugar que morava era a mesma coisa. 

Parecia a mãe do Kiko, quando dizia para ele não se misturar com a gentalha. A partir da 5ª Série, fiz amizades com alguns colegas. Meu amigo de infância filho da juíza nunca veio até minha casa. 


Acho que ele nem sabia que na minha também tinha piscina. Quando morei em apartamento, alguns meninos tentaram fazer amizade comigo, mas minha mãe sempre cortava. 

Duas ou três vezes me encontrei com o pessoal no playground e na piscina do prédio. Quando estava no colegial, um amigo da escola queria frequentar minha casa. Então arrumava trabalhos em grupo como desculpa para ele ir lá. 


Mas mesmo assim, minha mãe não deixava. A partir daí, ele começou a frequentar a casa daquele colega que trabalhava no banco. Certa vez ele contou que chegou lá para acordá-lo e ele estava dormindo. 

Quando ele puxou o lençol, o carinha estava só de cueca. Fiquei com tanta vontade de vê-lo assim! Eu sentia necessidade de ter amigos como todas as pessoas normais. A adolescência é uma fase que não pode ser passada por solidão. 


Então resolvi fazer amizade com um grupo de jovens que frequentava a igreja. Foi assim que pude me soltar mais e compartilhar todas as agruras da adolescência. Saber o que acontecia na mente e no corpo dos outros caras da minha idade.

No começo, quando me enturmei, me senti um pouco estranho! Acho que por que eles falavam muito de meninas. Com 15 anos, todo jovem  sente alguma coisa por alguém. 

A única diferença é que sentia atração por homens. Nessa época, gostei do colega do banco, do moreno que se transferiu para a noite, do amigo do meu pai e de até algumas meninas da escola. Sentia necessidade de contar isso para alguém, mas não tinha confiança neles. 


Se eu dissesse para meus amigos da igreja que eram héteros, que gostava de meninos e de meninas, acho que seria expulso da irmandade. Então tive que levar isso adiante por um bom tempo, até me mudar para outra cidade.
  
Beijos nos pés!